Resumo
Este artigo discute sobre como nos livros infantis, bem como na arte em geral, ocorre a tensão entre o dito e o silêncio (não dito) e como a criança pode ganhar voz nesse entremeio. Utilizando como corpus a obra João por um fio (2005), escrito e ilustrado por Roger Mello, é analisado as possibilidades da hipótese criada por Cecília Bajour (2010), de que “a voz nasce do silêncio”. Para tanto, partimos da premissa de que as linguagens presentes na literatura infantojuvenil, principalmente as ilustrações, marcam uma tentativa de dar voz ao protagonista-criança quando as palavras não são suficientes para tal tarefa. Como fundamentação teórica é utilizada a noção de alfabeto do silêncio (JUARROZ, 2001), de deslocamento de sentidos e linguagem das imagens (DIDIHUBERMAN, 1998), do silêncio também como barulho, e não como vazio (BRETON, 2006) e da literatura como criatura anfíbia (PAZ, 1993).