Resenha
Nau Catarineta é o mais célebre, o mais belo, o mais mítico dos romances marítimos do cancioneiro lusitano. Xácara anônima, oriunda da segunda metade do século XVI, é a perfeita prova do nível estético, da síntese lírica, da sabedoria e economia dramáticas a que pode chegar a poesia anônima do povo. Vários livros de grande erudição tentaram sem resultado estabelecer suas fontes factuais ou lendárias, enquanto ela continuava a ser simplesmente recitada ou cantada, em suas infinitas variantes, por todo o território de expressão portuguesa, do Algarve a Trás-os-Montes, nas terras de África ou nos Açores, na Ilha da Madeira ou no Brasil. O certo é que todo um clima trágico-marítimo, que era a realidade portuguesa desde o início da carreira da Índia, contribuiu para a origem do romance. O pavor do naufrágio, da calmaria, da fome no mar; o fantasma do canibalismo, a solidão, a saudade e as tentações no meio do deserto marinho, tudo isso vivia nas mentes e corações do povo heroico que criou a Nau Catarineta.