Sinopse
Era mais um dia na vida de Chico. Longa caminhada para a escola, sob o sol que deixava a bolsa de pano de carregar livro mais pesada nos ombros e a camisa grudada nas costas. Na veste, levava o remendo de sua mãe, buraco tapado com recorte de outra camisa, usada por anos, até a distância entre os ombros não permitir que os dois lados se encontrassem. O caderno de Chico havia sido doado pela escola na feira do ano anterior. E o livro era sobra da época em que Manel, filho caçula dos Silva, que ocupavam terra próxima, ainda frequentava a escola e não havia sido levado pelo destino ao encontro do irmão mais velho, no jardim de pedras do vilarejo vizinho.
Todos os dias, a não ser sábado e domingo, quando ajudava o pai nas tarefas do roçado e na colheita da cana, Chico andava ao lado do canavial, pelo campo de estrume dos jegues, cruzava a estrada arenosa e o rio morto, num caminhar que durava dois pulos de ponteiro até chegar à escola dos três municípios. O rio não se via desde o tempo em que o avô ainda era vivo e, por não ter nome, era chamado de Rio Morto. Enquanto a escola, por ter um nome difícil, de uma pessoa desconhecida por todos da região, era chamada de Colégio do Rio Morto. E o lugar onde Chico morava, por falta de alguém a ser homenageado, foi batizado de Cidade do Rio Morto.